Os sorrisos podem não ser apenas uma expressão das emoções. Eles podem ativar regiões do cérebro e criar sensações que nem sempre esperamos. É o que mostra um estudo feito pela pesquisadora Paula Niedenthal, publicado na revista 'Behavioral and Brain Sciences', que mostra que eles podem transmitir mensagens muito mais sofisticadas do que a felicidade, a ironia ou a aprovação.
- Um sorriso não é algo flutuante, como a boca do gato da 'Alice no País das Maravilhas'. Ele está ligado ao corpo. Às vezes os lábios se abrem e mostram dentes, outras vezes os dentes ficam escondidos. Às vezes rugas em volta dos olhos aparecem, outras vezes o queixo levanta. Não é tão simples assim - explica Paula.
Catalogar estas variações é o primeiro - e importante - passo de um longo estudo. Paula Niedenthal afirma que ainda não têm respostas sobre o enigma dos sorrisos.
- As pessoas adoram livros de linguagem corporal, mas estas informações quase sempre são muito superficiais.
Quando o músculo zigomático maior, o músculo da boca, contrai, as bochechas e os lábios se levantam. De fato, pesquisas mostram que quanto maior a contração do músculo zigomático, maior é a alegria no momento. Mas, para Paula, a informação está longe de ser verdadeira. Algumas pessoas sorriem quando estão tristes. Outras contraem os músculos faciais quando estão com nojo.
O estudo de primatas tem ajudado a entender o significado dos sorrisos. Nas pesquisas com macacos, eles são classificados em poucas categorias. Paula acredita que os sorrisos humanos se encaixam nestas mesmas categorias. Um sorriso tímido costuma vir com um queixo baixo. Já um sorriso alegre também vem junto com sobrancelhas levantadas. Os chimpanzés sorriem também para indicar poder. O traço pode ser observado nos humanos, que sorriem mostrando os dentes e levantam o queixo quando querem indicar dominância.
Ligações cerebrais
Se a teoria de Paula Niedenthal estiver correta, o estudo sobre sorrisos também vai revelar que áreas do cérebro são ativadas pelos movimentos faciais. Um sorriso feliz é acompanhado por uma atividade maior no sistema de recompensas do cérebro. Imitar um sorriso amigável aumenta a atividade no córtex orbitofrontal, área que cria a sensação de intimidade com o outro. A região também é ativada em pais que vêem seus filhos sorrindo.
Para provar sua teoria, Paula tem testado suas teorias nos próprios colegas. Em um dos testes, eles avaliaram centenas de fotos de sorrisos para identificar quais eram verdadeiros e quais eram falsos. Todos os participantes conseguiram adivinhar quem estava sorrindo genuinamente e quem estava fingindo. Na mesma experiência, eles tiveram que dar a mesma resposta segurando um lápis entre os lábios. O lápis impedia que eles contraíssem o músculo zigomático e o número de acertos foi quase nulo.
Em outra experiência, a pesquisadora quis provar a importância do contato visual no sorriso. Os participantes avaliaram a emoção dos sorrisos de várias pinturas mundialmente conhecidas. Nas pinturas onde as pessoas estavam vendadas, olhando para o lado ou com os olhos cobertos, o interesse e a intensidade das emoções relatadas era menor do que quando o olhar era direto. Paula Niedenthal acredita que, em breve, vai poder explicar, por exemplo, por que as pessoas são tão fascinadas pela Mona Lisa.
- O quadro ficou famoso justamente porque conseguimos fazer um contato visual com ela. Isto nos instiga a tentar entender o que significa o seu sorriso, que é difícil de imitar. Ao simular o sorriso da Mona Lisa, somos tomados por um sentimento de mistério, o que torna o quadro ainda mais interessante.
Fonte: O Globo