Testes odontológicos falham em diagnóstico de problema dentário
Técnica mais precisa pretende solucionar alto índice de erro na detecção de complicações na polpa dentária. Desenvolvida pelo Ipen, em parceria com a Faculdade de Odontologia, consegue em torno de 97% de exatidão na análise de dentes permanentes
Pesquisa realizada em parceria entre a Faculdade de Odontologia da USP e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) demonstrou, entre outros resultados, que os métodos atualmente utilizados para a análise da vitalidade da polpa dentária induzem o diagnóstico final a uma significativa porcentagem de erro.
Por sua opacidade e dureza, observar a parte interna de um dente não é simples. De maneira que muitos dentistas são levados a realizar testes que, mesmo captando relativamente bem os sintomas de algum problema, costumam falhar. O mais utilizado deles consiste em estimular térmica (quente ou frio) ou eletricamente o dente afetado para o paciente dizer se este dói ou não. São métodos baseados na interpretação do profissional e no grau de sensibilidade que o paciente possui, mas que podem induzir o dentista ao erro, podendo fazê-lo retirar uma polpa saudável ou detectar um problema tardiamente.
Segundo Gessé Nogueira, responsável pela Divisão de Desenvolvimento de Aplicações de Lasers do Centro de Lasers e Aplicações do Ipen, mesmo no caso de técnicas avançadas de diagnósticos sobre a vitalidade pulpar, como a Fluxometria Laser Doppler (FLD), os testes costumam errar entre 8% e 27% quando a polpa está necrosada e entre 10% e 32% quando a polpa está saudável.
Outros testes, como a descoloração da coroa (por luz direta e por transluminação) e a radiografia (radioluscência periapical e reabsorção externa da raiz), que são técnicas que não utilizam diretamente a sensibilidade do paciente, dificilmente erram no diagnóstico de um dente saudável. Mas no caso de um dente necrosado, a porcentagem de erro é alta. Pode chegar a 51% dos casos, com a transluminação; cerca de 65%, com a radioluscência periapical e perto de 85% com a reabsorção externa da raiz. "Estes tipos de teste são pouco confiáveis e, geralmente, respondem a estados tardios de necrose", afirma Nogueira.
Tratamento de números
O foco do trabalho de Nogueira, financiado pela Fapesp, está em melhorar a precisão do diagnóstico da vitalidade pulpar por meio de um tratamento de informação mais eficiente do que o feito atualmente.
A pesquisa tem como ponto de partida os registros de fluxo sangüíneo nos capilares da polpa para associá-los a possíveis anomalias. Após o registro, feito com a Fluxometria Laser Doppler, são produzidos algoritmos que classificam a anomalia de forma automática, através de uma máquina. O processo deixa de ter como base uma interpretação para se tornar algo objetivo e mais confiável. "Após elaborarmos algoritmos mais precisos, temos conseguido em torno de 97% de exatidão na análise de dentes permanentes e 100% na de dentes de leite, o que representa um avanço sensível", aponta o pesquisador.
Nogueira frisa que outra vantagem do método desenvolvido é que ele independe da experiência ou treinamento do profissional, já que ele poder ser implementado em programas de computador, o que resultaria em um instrumento automático de diagnóstico.
Em fase de estudos, a pesquisa já rendeu uma tese de doutorado e três de mestrado. "Estamos gerando conhecimento. No momento, não há contato com empresas para que máquinas que façam o diagnóstico em um laboratório sejam produzidas e comercializadas, até porque se trata ainda de um método relativamente caro. Mas o foco é melhorar a exatidão para que possamos demonstrar que o método é bom e confiável", completa Nogueira, dizendo que há a intenção de implementar os avanços obtidos ao menos na odontopediatria.
Agencia USP de Notícias