Os maiores riscos de perda dentária estão no interior do Mato Grosso e regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Perda de dentes
Metade dos brasileiros entre 35 e 45 anos já perdeu ao menos 12 dentes e cerca de 80% dos idosos no país têm menos de 20 dentes.
E aproximadamente 35% dos idosos que precisam de dentadura não têm acesso a ela, segundo a pesquisa realizada pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo.
O levantamento foi feito em 250 municípios de todos os estados e abrangeu 13.471 adultos entre 35 e 44 anos e 5.349 idosos entre 65 e 74 anos.
Estética e saúde
A pesquisa indicou quais fatores tinham relação com a perda dentária em adultos, com a falta de dentaduras e a presença de menos de 20 dentes na boca (edentulismo funcional) em idosos.
“Quem tem menos de 20 dentes não consegue mastigar ou falar de forma eficiente”, explica o dentista Rafael da Silveira Moreira, autor da pesquisa. “E a estética fica comprometida”.
A pesquisa aponta que a média de perda dentária e edentulismo funcional foram maiores entre os habitantes de cidades pequenas, estados onde são extraídos mais dentes por habitante e regiões com menor número de dentistas por habitante.
Mapa dentário
Com essas informações, Silveira elaborou mapas mostrando as áreas do Brasil em que esses fatores de risco estão mais presentes.
Áreas de risco alto para perda dentária estão presentes principalmente no Mato Groso e Pará, no oeste da região Norte, em todos os estados do Nordeste, exceto Pernambuco e Bahia. Também há áreas menores na divisa entre Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. As áreas de maior risco para idosos terem menos de 20 dentes estão no Nordeste, Norte, MT e PR.
O risco para edentulismo funcional é mais alto nas regiões Norte e Nordeste inteiras. Há manchas de risco altíssimo em regiões do interior da Bahia, Maranhão, Pará, Amapá e Amazonas. Há somente uma mancha de baixo risco, entre o Vale do Paraíba e a Região Metropolitana de São Paulo.
Condição social
A pesquisa mostrou que têm maior associação com a perda dentária alguns grupos que procuram mais os serviços odontológicos. Entre eles, mulheres e aqueles que foram ao dentista ao menos uma vez na vida.
Segundo Silveira, isso acontece por que muitas vezes as pessoas procuram serviços de saúde que não conseguem oferecer alternativas à extração – como tratamento de canal.
Quando têm pelo menos um carro, membros desses grupos correm menor risco. “A condição social da pessoa determina se ir ao dentista pode ser uma situação de risco ou proteção para a perda dentária”, diz Silveira.
Também tinham maiores chances de perda dentária pessoas com menos anos de estudo e quem não recebeu informações sobre como prevenir doenças bucais. Outros fatores de risco eram demorar mais de três anos para ir ao dentista ou só ir em situações de emergência.
Falta de dentaduras
O estudo mostrou que há mais idosos precisando de dentadura e sem acesso a ela nas cidades com menos de 100 mil habitantes, microrregiões em que muitas pessoas só vão ao dentista em situação de emergência e nos estados onde os adultos têm menor escolaridade.
Essas áreas de risco estão em todo o Nordeste, no oeste da região Norte e no norte de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. Há algumas áreas de risco muito baixo em São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
Idosos que nunca foram ao dentista têm o dobro de chance de precisar de dentadura e não ter. Também tem mais chance os homens, não-brancos, maiores de 69 anos e que moram em casas com maior número de pessoas por cômodo. Idosos que moram em áreas urbanas tiveram menor risco, mas quando a última consulta odontológica foi realizada no serviço público, o risco foi maior.
Risco de perda dentária
“A pesquisa ajuda a orientar políticas de saúde pública”, explica o professor da FSP Júlio César Pereira, orientador de Silveira. “O prefeito de uma cidade que agrega muitos fatores de risco pode ir a Brasília, mostrar esse mapa e pleitear mais recursos.”
Além disso, os resultados podem servir para mostrar aos dentistas quais pacientes têm maior risco de perda dentária. “Assim, quando entrar um paciente com perfil de risco, ele já sabe como atender”, diz Pereira.
Fonte: Agência USP