terça-feira, 14 de setembro de 2010

Nova técnica simplifica a fixação de próteses totais

O microempresário Ronaldo (nome fictício), 48, usa dentadura há 30 anos. Em todo esse tempo, de um episódio ele se lembra bem. "Pulei no mar e saí banguela. Perdi a dentadura na água." Uma técnica que vem ganhando espaço no país -e com perspectiva de queda no custo- pode acabar com problemas como o do microempresário. O procedimento, chamado implante de zigomático, permite a fixação de uma prótese na parte superior do maxilar. A grosso modo, a pessoa fica com uma "dentadura fixa". Em casos como o de Ronaldo, um implante simples não funciona. Isso porque a massa óssea no maxilar de quem usa dentadura há muito tempo, normalmente, fica pequena -o organismo, naturalmente, absorve o osso. Assim, não há como fixar a prótese.


Com a nova técnica, o implante é fixado em um osso chamado zigomático. Ele fica na parte interna do que é conhecido popularmente como maçã do rosto. Esse procedimento é uma alternativa ao enxerto, outra técnica utilizada em casos de pessoas com pouca massa óssea no maxilar. A cirurgia com enxerto, porém, é complexa, pois é preciso tirar parte do osso de outra região para colocar na boca, e a pessoa pode sentir dor por até um mês. "A cirurgia com enxerto é agressiva e maior. A do zigomático é uma opção interessante", diz Fábio Bastos Neto, coordenador do curso de Implantodontia da seção paulista da ABCD (Associação Brasileira de Cirurgiões Dentistas). Ele estima que até 2.000 pessoas já tenham feito essa operação no país -não há dados precisos. O que impede um aumento no número dessa cirurgia, segundo Bastos Neto, é o preço. Ela custa de R$ 7.000 a R$ 10 mil.


O valor ainda assusta, mesmo sendo quase a metade do que é gasto no enxerto -pois este requer mais despesas com internação e anestesia. Para os próximos meses, há uma perspectiva de queda no valor do implante zigomático. Isso porque a empresa Conexão Sistemas de Prótese afirma que irá começar a produzir no Brasil os materiais necessários -hoje eles são importados. "A cirurgia deverá ficar entre R$ 3.000 e R$ 5.000", diz Rodolfo Alba Candia Júnior, diretor-presidente da empresa. Bastos Neto, da ABCD, confirma que o preço deverá cair. Luis Augusto Passeri, professor de cirurgia buco-maxilo-facial da Unicamp, diz preferir o enxerto, por deixar a região mais parecida com o que era originalmente. "Esteticamente, fica melhor, porque você consegue repor o osso. Mas para quem não quiser passar por uma cirurgia tão complicada, a do zigomático é uma boa opção.”

PASSEI POR ISSO


"Parece que os dentes são meus mesmo"


Aos 22 anos, já não possuía nenhum dente na parte de cima da boca. Tenho problema de calcificação, e a minha dentição era muito fraca. Comecei, então, a usar dentadura. Tinha vergonha, contei para poucas pessoas. Com o passar do tempo, a sustentação da dentadura ficou ruim. Ela não parava mais. Isso gerava insegurança. No meio das conversas, sentia que a dentadura caía. Por receio de ela sair, ria pouco. Uma vez, estava brincando com as crianças no berçário onde trabalho e a dentadura voou. Foi assim que o pessoal do hospital soube que eu não tinha dentes. Foi constrangedor. Fui para o banheiro e chorei muito. Há uns dez anos, li em uma revista sobre o enxerto. Mas era um procedimento complicado, caro e precisava tirar parte do osso da minha bacia e colocá-lo na boca. Desisti. Há uns cinco meses, fiquei sabendo dessa nova técnica. Resolvi apostar. Vi o tamanho do pino, fiquei um pouco apreensiva. A cirurgia durou umas seis horas, mas não foi complicada nem senti uma dor insuportável. O resultado ficou muito bom. Dois dias depois da cirurgia, já podia comer. Parece que os dentes são meus mesmo. E melhorou minha estética. Tinha o maxilar um pouco afundado. Com a dentadura fixa, ele foi para frente. Já me perguntaram se fiz plástica. E meu marido disse que estou até faladeira demais agora. Quando você usa dentadura, se esconde ao máximo.


Depoimento da enfermeira Marcia Regina Mota, 48 anos.


Folha de São Paulo










Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente