quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O deficit da saúde bucal

As condições precárias de assistência e a baixa qualidade de vida do recifense receberam nova evidência após pesquisa nacional que colocou a capital pernambucana entre as piores do País em saúde bucal infantil.

A situação é tão crítica que nem o fato de se ter dobrado a assistência entre 2004 e 2005
alterou substancialmente a realidade das comunidades mais pobres do município.

E ainda são fatores agravantes a falta de água com flúor nas regiões carentes, e o excesso de açúcar na dieta, geralmente acompanhado da baixa frequência de escovação.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, divulgada há pouco mais de um mês, menos da metade dos recifenses com 5 anos de idade está livre de cáries, índice quase 10% mais baixo do que os de Fortaleza e de Salvador. A taxa de dentes cariados, perdidos ou obturados ainda é maior do que a de cidades como Aracaju e Teresina.

O professor Paulo Goes, da Faculdade de odontologia da Universidade de Pernambuco, coordenador do estudo no Norte e parte do Nordeste, fez diante dos dados um prognóstico preocupante: uma em cada cinco crianças recifenses deve perder pelo menos um dente antes de completar 15 anos.

Para o professor Goes, o cenário exige firme decisão política dos gestores públicos: ‘Proteger a boca é garantir saúde e combater a pobreza”, afirmou para o JC em matéria publicada no último dia 30.

A pesquisa fez parte do Brasil Sorridente – Política Nacional de Saúde Bucal, lançada no
governo Lula, com o objetivo de reavaliar as estratégias de assistência à saúde básica da
população carente.

De acordo com o coordenador de Saúde Bucal no Recife, Bruno Freitas, a rede de atendimento dentário precisa efetivamente ser ampliada, pois há comunidades sem adevida atuação de dentistas, embora se obedeça à lógica nacional de um dentista para cada
duas equipes do Programa Saúde na Família.

São 250 dentistas na rede pública municipal, com apoio de 30 técnicos e 250 auxiliares. Entre janeiro e novembro de 2010 foram efetuados mais de 273 mil procedimentos nos serviços de odontologia do SUS no Recife.

Segundo os números oficiais, as equipes supervisionaram 241.636 escovações nas escolas e nos postos de saúde, e quase 56 mil recifenses foram ao dentista pela primeira vez na vida. A cada três meses, 150 a 200 mil escovas são distribuídas no município. Os números, no entanto, não desmentem os fatos constatados.

Reconhecendo a deficiência, o coordenador ponderou que os pesquisadores podem ter visitado áreas em que o déficit de atendimento é maior, ao contrário do que teria ocorrido em outras cidades.

De qualquer maneira, a referência do novo banco de dados nacional sobre saúde bucal, com
informações de 38 mil pesquisados em 177 municípios, põe a nossa capital em alerta.

Estamos marcando passo enquanto o País melhora, num quesito fundamental para o desenvolvimento individual e a luta contra a miséria. Nos últimos oito anos, registrou-se o aumento de 30% o número de crianças sem cárie no Brasil, e caiu em 26% a sua incidência em crianças de 12 anos – faixa etária considerada crucial pela Organização Mundial da Saúde (OMS), quando a dentição está quase completa. Apesar dos avanços, foi revelado também outro déficit, na ponta extrema
da população: sete milhões de idosos necessitam de próteses dentárias totais ou parciais.

É lamentável que, enquanto o governo federal comemora os indicadores como um sinal de aumento da prevenção a novas gerações de desdentados, a capital pernambucana exibe a clara necessidade de acelerar a política na área, a fim de acompanhar o passo de outros municípios no combate ao déficit da saúde bucal.

A questão de interesse social, tem repercussões na formação de cada indivíduo, sendo preciso levar em conta o prejuízo emocional para osdesdentados infantis, numa sociedade em que o ideal estético, transformado em sonho de consumo, é perseguido ansiosamente por todos, em especial, pelos mais jovens.

O sorriso do futuro do Recife está comprometido. Os dentes de nossas crianças merecem receber atenção prioritária da gestão municipal.
 
Fonte: JORNAL DO COMMÉRCIO

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