Consultórios odontológicos adotam terapias alternativas como acupuntura, homeopatia, hipnose e Florais de Bach para minimizar a dor e o estresse dos pacientes
O nervosismo e a ansiedade que aparecem ao se deitar na cadeira do dentista é coisa do passado. Graças ao estudo de terapias alternativas como a acupuntura, a homeopatia, a hipnose e os Florais de Bach, entre outras, os pacientes em Brasília podem agora relaxar no gabinete dentário.
Os tratamentos fast food – rápidos, invasivos, geradores de tensão, além de doenças – estão sendo trocados pelos "naturebas" – que enxergam o paciente como um todo físico e emocional. O Conselho Regional de Odontologia (CRO), por meio da Comissão de Terapêuticas Integrativas e Complementares, apóia estas iniciativas, afirma seu presidente, o odontólogo Nilo Celso Pires.
Desejo
O estudo de técnicas menos invasivas, mais naturais e menos agressivas é um desejo da população, assinala. "Há uma demanda da sociedade por este tipo de atendimento dentário. Pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) neste ano aponta que 70% da categoria no País tem interesse na normatização do assunto. Não é para menos, posso assegurar, por experiência própria, que estes tratamentos são efetivos", acentua Nilo.
O processo de regulamentação para adequar estas práticas ao cotidiano dos dentistas está em curso, assinala o presidente da Comissão de Terapêuticas Integrativas e Complementares do CRO, Saulo França Teles. Especialista no assunto, Teles acredita que até o final do ano a normatização esteja aprovada pelo CFO.
"Todo o Brasil está trabalhando neste sentido. Em julho teremos em Brasília congresso com este objetivo. Em setembro, no Mato Grosso, novo encontro decidirá sobre a questão", acentua.
Segundo Teles, a utilização destas práticas é uma tendência mundial. "A relação dentista-paciente nas terapêuticas alternativas fica mais humanizada. O tratamento tradicional, mecânico e rápido, é igual à comida fast food – resolve na hora, mas traz conseqüências negativas à longo prazo", ressalta.
Solução
A diferença da resposta do paciente no tratamento tradicional e no alternativo é clara, assegura Teles. "Visto como uma pessoa completa, analisado seu organismo e suas emoções, o paciente se sente acolhido e se conscientiza da sua participação na solução de seus problemas de saúde", afirma.
"Um problema de Disfunção da Articulação Temporo-Mandibular ou de bruxismo (ranger de dentes) pode ser consequência de ansiedade ou de nervosismo, sintomas que podem ser combatidos com a acupuntura, hipnose, homeopatia ou florais", acentua. As dores de cabeça tensionais são comuns nos portadores de bruxismo. Outro problema é dor da articulação da mandíbula. Esta também pode sofrer estalos, travamento, restringir a abertura da boca e desviar para o lado ao abrir e fechar.
Tipos de tratamento
Acupuntura
Ciência milenar chinesa aceita nos tratamentos médicos, consiste na inserção de agulhas finas em determinados pontos do corpo humano para estimulá-los. É utilizada com sucesso em doenças dos sistemas músculo-esquelético, respiratório, neurológico, digestório. Auxilia, também, no tratamento da depressão e ansiedade.
Bio Cibernética Bucal (BCB)
Os tratamentos tradicionais de restaurações geram freqüentemente disfunções e doenças de postura na boca do paciente. Para evitar estas situações a BCB redimensiona os espaços fisiológicos perdidos antes de proceder ao trabalho de recuperação.
Terapêutica Gnatoneural
Atua na dor decorrente de disfunções mandibulares, ajustando a mordida por meio de desgastes ou acréscimos. Este tratamente alivia os sintomas da Disfunção da Articulação Têmporo-Mandibular (DTM), dores na face, dores de cabeça, bruxismo (hábito de apertar e ranger os dentes), fibromialgia (dor generalizada no sistema muscular) e outras lesões neuromusculares.
Homeopatia
O cirurugião-dentista homeopata avalia a saúde bucal, os sintomas e os aspectos emocionais do paciente. Atua nas afecções orais, no pré e pós-operatório contra a ansiedade e o medo. Torna o tratamento mais humanizado e sem efeitos colaterais.
Antroposofia
Abordagem interdisciplinar, analítica e sistêmica dos pacientes, que cobre toda a vida humana, daí suas aplicações em praticamente todas as áreas da vida. Fundada pelo filósofo Rudolf Steiner no início do Século XX. Trabalha com técnicas e recursos de baixa complexidade tecnológica e estimula as forças curativas do próprio organismo.
Florais
Os Florais de Bach levam este nome em homenagem ao médico inglês Edward Bach, seu descobridor. Consistem em 38 medicamentos naturais preventivos de doenças. Eles buscam o equilíbrio bio-psico-emocional e podem ser utilizados em pessoas em coma, portadores de necessidade especiais e até em animais. São utilizados no combate ao herpes labial, bruxismo, halitose, dor, sangramento, irritabilidade, entre outras patologias.
Reiki
Terapia de origem japonesa baseada na manipulação da energia vital por meio da imposição de mãos tem o objetivo de restabelecer o equilíbrio do organismo, prevenindo doenças. Ajuda no relaxamento da tensão muscular, no restabelecimento do sistema imunológico, na desintoxicação orgânica, na recuperação de cirurgias e fraturas, e, ainda, na depressão, ansiedade, síndromes do medo e do pânico, falta de ânimo e outras doenças.
SUS deve adotar técnica
O secretário da Comissão de Terapêuticas Integrativas e Complementares do CRO, José Luiz Larixchia Martins, é especializado em acupuntura. "Esta terapia é praticada há mais de cinco mil anos na China e no Brasil desde a década de 1950. Só a partir de 1970, com o interesse dos Estados Unidos pelo assunto é que a especialidade expandiu-se", comenta.
No seu consultório esta terapia é utilizada para controlar a dor, aumentar a função imunológica, reduzir o estresse e a ansiedade, contribuindo para diminuir a necessidade do paciente ingerir drogas analgésicas e antiinflamatórias. Seu colega Gil Montenegro é especializado em hipnose. "Este é um campo reconhecido pela comunidade científica mundial e exige habilitação e treinamento específico. Pode ser empregado com excelentes resultados no controle da dor", assegura.
O funcionário público Darlan Martins, 37 anos, concorda com os especialistas. "As terapias alternativas funcionam", ressalta. "Desde pequeno odeio ir ao dentista. Suo as mãos, fico irritado e quero logo sair dali. Só depois da acupuntura conseguir ficar quieto na cadeira", conta. A arquiteta Maria Lúcia Guimarães Lousada, 42 anos, é outra adepta destas terapêuticas. "Os florais me deixam mais receptiva ao tratamento", assinala.
Já o engenheiro José Guedes, 45 anos, aderiu à Terapêutica Gnatoneural. "Tinha uma dor-de-cabeça horrível e não conseguia descobrir o que era. Me surpreendi quando o otorrino me disse para procurar um dentista, pois era conseqüência de Disfunção Têmporo-Mandibular. Com o tratamento com a técnica gnatoneural resolvi o problema", destaca.
O Ministério da Saúde já deu sinal verde para a regulamentação das terapias alternativas. "Na Medicina, a acupuntura e a homeopatia já são aceitas no tratamento de doenças. Acredito que o mesmo ocorra em relação ao tratamento odontológico", destaca o coordenador nacional da Saúde Bucal, Gilberto Pucca.
Sua expectativa é que em dois anos a normatização do uso destas terapêuticas em consultórios dentários esteja pronta. Ela permitirá que os 65 mil profissionais do programa federal Brasil Sorridente, distribuídos por 3.500 municípios brasileiros ofereçam aos seus 70 milhões de pacientes a oportunidade de conhecerem este tipo de tratamento dentário.
"Cabe ao Sistema Único de Saúde (SUS) acolher a normatização e repassar o dinheiro do programa aos estados e municípios. Estes, no final, é que concretizarão o acesso da população a estes benefícios", ressalta.
Jornal de Brasília